Sobre Vícios
- Eduardo Lucas Andrade
- 6 de mar.
- 2 min de leitura
“Nada é tão difícil para um homem quanto abdicar de um prazer que tenha experimentado” -Freud, 1908
De prazer em prazer se enche o cativeiro e o sujeito se prende lá onde gozava deleites. Lacan dizia que o gozo é aquilo que começa na cosquinha e termina na fogueira, com os vícios são assim, o sujeito vai numa coceira psíquica que coça coça até que se fere. Interfere nos dias e na vida.

Freud já ponderava o quanto a química era recurso traiçoeiro para lidar com o mal-estar, pois traz efeitos de satisfação intensa no instante. Naquele momento: Beber passa, fumar acalma, açúcar energiza e por aí vai, vai e se perde no excesso. Passa, mas volta e volta como marca de um retorno que parece eterno.
É terno no começo e término no desenrolar desta relação. Sim, o sujeito no vício está numa relação libidinosa, porém estrondosa e de morte também. O vício vira uma ralação. Há relações que viram vícios. Há relações que são abusivas e o sujeito desaparece lá onde relacionava. Não relaciona mais: só imperativo e obediência. Voz anulada. No máximo uma ralação. Neste abusivo da ralação, cosquinha e fogueira, o sujeito se rala. O desejo rala fora. Há quem permanece em um vício só, de dependência intensa que e dele acredita carecer para existir. Ter um vício só, seja ele qual for, é prisão destrutiva com narrações de amor.
Isso pulsa. O sujeito se agarra para lidar com o desamparo. Um mal-estar? Se garro. Passa e volta e repete e insiste.
A bolsa ou o vício?
Alguns contornam, inventam, saem e este relacionamento não vira disputa de poder e nem tão abusivo como tenderia a ser. Há quem multiplica seus vícios e resgata a plasticidade da vida.
Há quem se desfaz e no masoquismo moral abraça a solidão fazendo dois ser um. Não veem sua vida fora dali e o cativo faz cativeiro.
Há os que se deleitam nos vícios socialmente aceitos e por serem engrenagens do sistema, esses seguem sem saber que estão em relações abusivas e dependentes com o trabalho, os estudos e outras coisas mais. Por fim, todo excesso esconde algo que seria amplitude de vida…
Comments